Coletada num universo de 1.732 servidores da PF, a pesquisa mostra que
89,37% afirmam que há controle político da instituição, 75,28% dizem ter
presenciado ou ouvido algum relato de interferência político e-o mais
alarmante - 94,34% acreditam que o enfraquecimento do órgão, proposital,
é uma espécie de “castigo” pelo fato de investigações anteriores terem
chegado a personagens que gravitam em torno do poder.
“Nunca em sua história a PF enfrentou uma situação como agora. O órgão
está sucateado, os policiais estão desmotivados e há uma crise de
atribuições sem precedentes. A falta de investimentos enfraquece as
investigações, enquanto o comando da PF se mostra alheio à crise”,
dispara o presidente da Fenapef, o agente federal Jones Borges Leal.
Leal diz ainda que o esvaziamento das operações contra a corrupção
reflete diretamente no número de prisões por desvios de recursos
públicos. Atualmente, segundo ele, o volume de prisões não chega a 20%
do que foi nos anos em que a polícia fazia um ataque frontal à corrupção
na ofensiva que se tornou prioridade do órgão e sem interferência
política. O levantamento da entidade mostra uma queda brutal no número
de prisões em geral de 2009 a 2013: de 2.663 para 786.
Segundo ele, para a pesquisa, a entidade usou um sistema de consulta
baseado no envio de mensagens eletrônicas individualizadas e
criptografadas num universo formado por agentes, escrivães e
papiloscopistas (peritos em impressões digitais), cargos essenciais em
análises, ações de inteligência e estruturação das grandes operações do
órgão.
Leal diz que a pesquisa, com margem de erro de 3%, é confiável e reflete o aumento de reclamações que chegam à Fenapef.
“Quase todos os dias um policial denuncia que foi realocado para outras
funções quando estava para concluir alguma investigação, normalmente
contra a corrupção”, afirma o policial.
Outro dado preocupante apontado pela pesquisa: 95% declararam que o
governo federal não está preocupado com a produtividade do órgão, e
mostraram que a Polícia Federal virou uma espécie de caixa preta, sem a
ofensiva que há poucos anos marcou a atuação do órgão contra poderosos
de todos os poderes da República flagrados em malfeitos.
“É necessário avaliar o que está acontecendo. Quem perde é a sociedade”,
alerta o presidente da Fenapef. Para Leal a inércia da PF está na
contramão das manifestações populares, mas ajuda a explicar atitudes
como a absolvição política do deputado Natan Donadon cujo mandato,
apesar de preso e condenado definitivamente por desvios de recursos
públicos, a Câmara preservou.
Vasconcelo Quadros
iG São Paulo
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